A nossa relação com o mundo exterior é mediada constantemente pelos cinco sentidos. São eles a porta de entrada para as nossas percepções sobre tudo aquilo que nos rodeia. Estímulos provenientes das imagens, dos cheiros, dos sons, dos toques e dos gostos definem todas as nossas experiências ao longo da vida, constituindo, nesta interação, a nossa personalidade, os nossos sentimentos, o nosso humor e as nossas opiniões.
Já diz um antigo ditado que “o que os olhos não vêm o coração não sente”. Sim, é mesmo assim. Mesmo que, eventualmente, isto aconteça de forma inconsciente.Por isto, a decoração de qualquer ambiente, seja residencial ou comercial, é uma fonte permanente de estímulos e informações para as pessoas que nele vivem, trabalham ou transitam. Consistindo, assim, em um fator condicionante para o seu bem-estar físico e emocional.
Há, inclusive, uma área da Psicologia, a Psicologia Ambiental, que se ocupa justamente “de analisar como o indivíduo avalia e percebe o ambiente e, ao mesmo tempo, como ele está sendo influenciado por esse mesmo ambiente”, conforme afirma o estudioso Gabriel Moser, Doutor em Psicologia pela Universidade René Descartes-Paris V e professor de Psicologia Ambiental.
Segundo ele, “é óbvio que nos comportamos diferentemente dependendo do espaço em que estamos. Se estamos num espaço restringido, pequeno, atuamos de maneira diferente de nosso modo de agir em um espaço amplo. A avaliação e percepção que temos desse espaço também vão influenciar na nossa maneira de atuar; interagimos diferentemente dependendo do local”.
Assim, é muito importante configurar o espaço para que seja sensorial e visualmente agradável, para que o seu layout favoreça a circulação, bem como considerar a acústica do local, a incidência de luz e os fatores que poderão proporcionar conforto psíquico e ergonômico durante a permanência no ambiente.
As cores, as texturas, a quantidade de informação visual e as condições de interação entre as pessoas no ambiente também condicionam esta relação homem-espaço, e são determinantes para a qualidade desta relação, e, consequentemente, para a sensação de satisfação dos indivíduos.
Neste sentido, são possíveis inúmeros exemplos: cores relaxantes tem a capacidade de deixar as pessoas mais calmas, ao mesmo tempo em que ambientes com muitos elementos podem deixar as pessoas mais agitadas. Texturas mais rústicas trazem uma sensação de aconchego, enquanto ambientes sem iluminação natural podem ser opressores. Enfim, esta interação é um campo de estudo vasto, mas fundamental para a qualidade de vida das pessoas.
Personalizar o ambiente também é um fator muito importante para influenciar a forma como os seres humanos reagem ao espaço que habitam. Segundo Angelita Corrêa Scardua, psicóloga e mestre e doutoranda em Psicologia Social pela USP, “quando o ambiente reflete a personalidade dos moradores, funciona como um depósito de energia emocional”. Segundo ela, o bem-estar em uma residência depende, em grande parte, de esta ser organizada e decorada de acordo com os seus gostos e interesses.
Já para a professora de Psicologia Laura Alberto, da Universidade Anhembi Morumbi, o local onde moramos passa a ser uma referência para a nossa identidade, como uma extensão de nós mesmos. Assim, nos identificarmos neste local transforma a casa em um lar.
Nos ambientes comerciais não é diferente: a decoração de qualquer ambiente comercial é uma fonte permanente de informações para clientes e consumidores, despertando sensações e emoções através dos sentidos. Assim, mesmo que nem sempre tenham consciência disto, os clientes avaliam a empresa através do que veem em seus espaços.
De nada adianta a empresa ter uma marca que inspire alimentação natural, por exemplo, e o seu espaço não estar coerente com este conceito. Então, é imprescindível encontrar a decoração ideal para que se transmita as mensagens certas ao público-alvo, ajudando as empresas a consolidarem os seus conceitos junto aos seus clientes através do espaço físico.
É também importante organizar o espaço para que proporcione uma permanência e uma experiência de consumo agradável (seja de um produto ou serviço), bem como favoreça o trabalho da equipe de colaboradores.
Por todas estas razões, o design de interiores, até então considerado um trabalho elitizado, passou a ser visto como um serviço fundamental para a satisfação e a felicidade das pessoas, através da interação com os seus espaços, bem como para o sucesso dos negócios.
É o profissional de interiores que pode, com a sua técnica e conhecimento, configurar os ambientes para que representem as pessoas e ofereçam conforto físico, psíquico e sensorial. É este profissional, também, que formata os ambientes comerciais para que transmitam as mensagens que caracterizam a identidade da empresa, reforçando os conceitos por trás da marca e tornando agradável e bem-sucedida a experiência nestes espaços.
Ele atua como um intérprete, ou seja, alguém que colhe informações a seu respeito, e, junto com você, transforma estas referências em um ambiente que funciona, que cabe no seu bolso, que nutre os sentidos, que representa de uma forma sutil e totalmente pessoal aquilo que você é e as coisas em que acredita. Faz aquilo que parece óbvio, mas que você talvez tenha dificuldade em fazer sozinho. E sabe por quê? Pelo envolvimento emocional. Porque há este laço afetivo enorme entre a casa e seus moradores.
Então, o profissional é alguém que traduz pessoas em móveis, revestimentos, estampas, cores, adornos. Dá vida ao seu espaço. Não uma vida qualquer. A sua vida. A sua história. Além, é claro, de ser o profissional que se dedica a deixar o ambiente bonito – o que é, da mesma forma, extremamente importante. Quem não gosta de uma paisagem bonita, quem não fica sensibilizado com uma cena tocante, por exemplo? Pois é, a beleza também nos faz feliz. E estar feliz, no fim das contas, é o objetivo de todos nós.
Letícia Almeida, Designer de Interiores, pós-graduada e mestre em Psicologia. Desenvolve projetos de interiores e consultoria em Decoração, de forma presencial e à distância.