Slow Design: Design para Morar com Prazer

No mundo contemporâneo, a cada momento fica mais evidente que a relação com o tempo precisa ser revisitada, um valor abstrato, criado por nós e que nos domina, tomando praticamente nosso dia a dia.

Um dos lugares onde as pessoas podem ter noção do espaço e do tempo é a casa. A moradia é um dos espaços possíveis para as pessoas perceberem melhor o tempo de suas vidas.

Evidentemente, se trata da diferença entre ter, ser e estar ao longo do tempo. Todos temos o mesmo tempo, mas o que sou e o que estou fazendo ao longo desse período é o que faz total diferença. Ter domínio sobre o tempo e o lugar se tornou o grande desejo do homem contemporâneo.

Slow Design: Refúgio Conexão, projeto assinado pela arquiteta Isabella Nalon, propõe desacelerar o ritmo – Foto: Rafael Renzo/CASACOR

Slow Design: Refúgio Conexão, projeto assinado pela arquiteta Isabella Nalon, propõe desacelerar o ritmo – Foto: Rafael Renzo/CASACOR

Desta forma, luxo é ter noção do tempo que dedicamos a nossas vidas.

Os objetos da casa desempenham um papel essencial, pois eles são a interface para que esta percepção ocorra, ampliando a noção em todos os sentidos.

O design dos ambientes deve ser objetivo e definir claramente suas intenções, sobretudo na escolha de todos os produtos e materiais. Se queremos uma vida melhor dentro de casa, precisamos escolher objetos que traduzam esses conceitos, pois na convivência com estes é que se desenvolve uma relação sensorial que gera bem-estar e prazer.

Isso ocorre em vários ritmos ao ingressar em ambientes com esse propósito. Percebemos a mudança para melhor, paramos e respiramos fundo, olhamos em volta, o tempo parece mais lento.

Mas, ao longo da convivência diária, acompanhamos processos, como uma planta que floresce ou uma garrafa de vinho aberta, e isso é importante, pois passamos a entender que tudo tem um tempo certo. É a maturidade.

Slow Design: quem quer algo singular, pensado para sua vida, deve entender o tempo que isso leva – Foto: Unsplash

Slow Design: quem quer algo singular, pensado para sua vida, deve entender o tempo que isso leva – Foto: Unsplash

Se queremos um objeto altamente personalizado, com materiais especiais e feitos com cuidados especiais, temos que entender que devem ser produzidos em um tempo diferente.

Quem procura um projeto fast, numa loja fast, fabricados fast e em grandes quantidades, terá uma vida fast igual aos dos outros. Quem quer algo singular, pensado para sua vida, deve entender o tempo que isso leva.

Isso não significa que as coisas são demoradas, pois, estamos tratando do tempo certo para cada coisa, e com agilidade e mobilidade. O que não devemos é acelerar o processo e muito menos promover isso no nosso lar, porque aí repetiremos o nosso maior problema contemporâneo e nunca teremos uma moradia.

Como citei no artigo Morar de corpo e alma, o termo morar vem do latim morari, que significa retardar-se, diminuir o ritmo.

É por isso que insisto na importância do Slow Design.

Uma vida slow dentro de casa nos proporciona mais qualidade, e isso se transmite através dos objetos do nosso redor. Assim, estamos tratando de algo maior do que ter este ou aquele objeto, estamos tratando de uma filosofia de vida, que tem como princípio ser.

Os objetos com esta filosofia são fáceis de perceber, pois ativam nossos sentidos. São texturas agradáveis ao tato que nos estimulam a dedicar um tempo ao toque, da mesma forma os objetos que estimulam a audição, seja com sons ou com o silêncio.

Como dizia Lina Bo Bardi, “o intervalo que proporciona à música um ritmo especial é o vazio dos ambientes”.

Enfim, é esse estímulo às sensações que permitem que as pessoas determinem um tempo de seu interesse, e não um tempo determinado pela máquina ou pelo produto.

Outro ponto importante de apreciar em objetos com filosofia slow é o tempo de sua produção. Geralmente, é possível perceber que a mão do homem está presente, e isso lhe dá uma característica própria que a máquina não consegue, já que o resultado da máquina é sempre o mesmo e ao mesmo tempo.

Slow Design: a máquina é importante, mas não anula a habilidade do homem na produção – Foto: Shutterstock

Slow Design: a máquina é importante, mas não anula a habilidade do homem na produção – Foto: Shutterstock

Isso não significa que estamos falando de artesanato, a máquina e os instrumentos de trabalho fazem parte desta produção, mas não anulam a mão do homem.

O conceito de Slow Design está em todo o processo, desde a escolha das matérias primas, sua produção, o desenho, a execução e o uso, já que muitos deles exigem um manuseio mais delicado e lento. Esses se fortalecem na medida em que a produção se baseia na mão humana. Assim, o tempo de cada objeto depende do homem, não da máquina, e isso é essencial.

Se nós, seres humanos, determinamos o ritmo do tempo, é preciso que nós determinemos o valor dele. Slow Design é um grande exemplo de que é possível, sim, aproveitar cada momento com mais prazer. É possível se impor sobre o ritmo da máquina e pensar um pouco mais no mundo ao nosso redor.

Design focado no ser humano é prioridade e traz alguns resultados: a curto prazo, na área econômica, gera empregabilidade, é o homem inserido no processo produtivo.

A médio prazo, traz o preço e o valor desse produto, já que evidentemente se destaca da produção feita pela máquina. E a longo prazo, a preservação da cultura e das identidades das comunidades envolvidas.

Comentários

Não há comentários em "Slow Design: Design para Morar com Prazer"