SESC Pompéia Lina Bo Bardi: a casa da liberdade

Se alguns associam o concreto armado com algo frio e pouco natural, as ranhuras da madeira, impressas pelas tábuas horizontais dos moldes, conferem um aspecto rústico, quase de casa de campo à paredes, pois o olhar e o tato associam aquela textura em veios ao material que as imprimiu: a madeira das árvores.

Sesc Pompeia

São pequenos detalhes sutis como este que fazem do SESC Pompeia, obra de Lina Bo Bardi, um complexo arquitetônico tão magnífico, aclamado e reconhecido com uma obra admirável internacionalmente.

A arquiteta soube preservar os elementos originais do local (os galpões de uma fábrica e até um córrego) com a imponência das três torres principais, moldadas em concreto e destinadas a abrigar atividades esportivas e culturais que tornam o SESC Pompeia um ponto de encontro dos paulistanos.

Sesc Pompeia: Teatro

Nesta postagem, você vai descobrir como uma antiga fábrica de tambores agora repercute cultura, diversão, entretenimento e espírito esportivo pela cidade de São Paulo, graças ao talento e trabalho incansável de Lina Bo Bardi no SESC Pompeia, ao qual ela se referia, carinhosamente, como “ A Casa da Liberdade”.

O SESC Pompéia de Lina Bo Bardi

 

A Pompéia inicialmente era uma local de chácaras e sítios dos paulistanos, mas, com a instalação de diversas indústrias na região, acabou se transformando em bairro operário.

Hoje o bairro da Pompéia é uma área residencial e comercial bastante agradável da cidade, cheia de infraestrutura e lazer.

E muito disso se deve a revitalização da região e a instalação dos SESC Pompéia, inspiração da arquiteta Lina Bo Bardi.

Com o objetivo de aproveitar os galpões da fábrica de tambores em sua forma original e, ao mesmo tempo, conseguir entregar à população o máximo de beleza e cultura possível, Lina Bo Bardi praticamente se mudou para o local da obra, transferindo seu escritório para lá.

Além de Lina, o Brasil possui diversos arquitetos talentosos. Veja mais sobre eles: Famosos arquitetos brasileiros e como se unir a este grupo.

Veja o motivo disso, em suas próprias palavras:

Preservar a fábrica é preservar um pedaço da história da cidade, mas um pedaço da história como ela é mesmo, sem disfarces. Nada daquele conceito de que só deve permanecer o que é belo. O que é típico deve ser valorizado. Mesmo que seja simples, como seria obrigatoriamente uma fábrica de tambores.

Quem pensaria em construir piscinas e verdadeiros miniginásios esportivos para diferentes modalidades empilhados uns sobre os outros, em um prisma de concreto armado?

No SESC Pompéia, Lina Bo Bardi Pensou nisso.

Sesc Pompeia e Lina Bo Bardi: Obra

O resultado transcendeu muito além da arquitetura, pois o espaço do SESC Pompéia, que também conta com um teatro, foi palco de um aclamado programa de TV dos anos 80, chamado Fábrica do Som, exibido pela TV Cultura de São Paulo, que ajudou a divulgar nomes hoje consagrados da música brasileira, como Titãs, Ira!, Capital Inicial, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor e muitos outros.

São tantos os detalhes nas soluções técnicas construtivas que fica até difícil elencar toda criatividade e beleza que trouxeram ao local.

Sobre o córrego que divide as duas edificações principais, por exemplo, um deck de madeira permitiu deixar o local transitável, sem interferir demais no fluxo das águas ou na topografia do terreno.

Sesc Pompeia: diversos ângulos

Chega de detalhes, vamos à descrição das três torres dos SESC Pompeia, de Lina Bo Bardi.

Não é preciso muito para ser muito

 

Sesc Pompeia: dia de visitação

Qual arquiteto nunca brincou com aquela caixinha de prismas e cilindros de madeira coloridos, na infância, e imaginou construir cidades, casas e pontes?

Parece que no SESC Pompéia, Lina Bo Bardi abriu sua caixinha de blocos de madeira e escolheu três deles para dispor sobre o terreno: um prisma mais estreito, outro mais largo e também um cilindro estreito.

Uma frase famosa de Lina pode descrever sua motivação por trás desta atitude:

Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito

— Lina Bo Bardi

O prisma mais largo tem cinco pavimentos com o pé direito mais alto (8,60m), para que as atividades esportivas se desenrolem sem empecilhos em relação a altura do teto.

O prisma mais estreito, que abriga outras atividades, tem 12 pavimentos, com pé direito menor (4,30m) de forma que a cada dois andares é possível conectar os prédios por passarelas de concreto propendido, desencontradas entre si e com o formato da letra “V”, hora desenhada com um ângulo mais aberto, hora mais fechado, e até uma delas que se parece mais com um Y.

Veja também: O MASP de Lina Bo Bardi: bruta simplicidade

Sesc Pompeia: espaço de descanso

Este conjunto de passarelas se localiza sobre o deck de madeira, que recobre o Córrego das Águas Pretas, que já citamos.

O cilindro usou uma técnica de concretagem diferenciada, com formas de anéis cilíndricos com uma leve inclinação para o centro na parte superior (com a secção de um cone) o que fazia que o limite interno do anel superior se encaixasse sobre o limite externo do anel de baixo, não apenas facilitando muito a construção, mas criando também uma linha de contorno anelada de concreto “esparramado” que se transformou em um adorno irregular e granuloso ao longo de toda a torre.

Conheça detalhes de outra obra: A Casa de Vidro de Lina Bo Bardi

Sesc Pompeia de Lina Bo Bardi: a 6ª melhor construção em concreto do mundo

 

Sesc Pompeia: Interior

Não que fosse necessário, não que alguém duvidasse. Mas elogios e reconhecimento, sempre são bem-vindos, principalmente quando sinceros.

O conceituado jornal “The Guardian” colocou o SESC Pompéia de Lina Bo Bardi como sexto colocado no mundo na categoria de construções em concreto.

Quem visita São Paulo, sempre recebe a recomendação de ir conhecer o MASP, outra obra da Arquiteta Lina Bo Bardi.

Mas se você quer conhecer algo ainda mais impressionante, para muitos, do que o próprio museu, não deixe de conhecer o SESC Pompeia de Lina Bo Bardi.