O Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão, é uma das obras mais polêmicas da cidade de São Paulo.
Ele tem 2,8 quilômetros de extensão e liga as zonas oeste e leste da cidade atravessando o centro. Desde a sua inauguração, a via é alvo de discussões sobre a sua relevância e problemas gerados para os moradores na região.
Mas o fato é que o Minhocão, que ganhou esse apelido devido a sua forma alongada, tem um futuro incerto. A expectativa é que o elevado seja desativado, totalmente ou parcialmente, para a criação de um parque. Quer entender melhor porque isso ainda não aconteceu?
No post de hoje, vamos mostrar a história do Minhocão, suas polêmicas e 5 curiosidades. Acompanhe!
Minhocão: História
O Minhocão foi inaugurado no dia 25 de janeiro de 1971, no aniversário de São Paulo. A inauguração aconteceu 14 meses após o início da sua construção. O prefeito da cidade na época era Paulo Maluf.
O projeto do Minhocão foi idealizado por Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirdadi, que era o arquiteto do Departamento de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo em 1968.
Veja também: Estação da Luz: História, Arquitetura +7 Curiosidades!
Luiz Carlos apresentou o projeto do Minhocão ao prefeito da gestão anterior, o Brigadeiro José Vicente de Faria Lima.
A ideia era oferecer uma solução ao tráfego pesado da Avenida São João, duplicando sua capacidade sem alargá-la, indo até a Praça Marechal Deodoro.
Mas o prefeito rejeitou a ideia alegando que ela era radical demais e deu prioridade a construção do metrô.
No entanto ele enviou o projeto para a Câmara dos Vereadores e deixou a área reservada caso o próximo prefeito se interessasse pelo projeto.
Ao assumir o cargo, Paulo Maluf retomou o projeto do Minhocão com o objetivo de marcar sua gestão com uma obra monumental.
Veja também: Entenda de um jeito simples o que diz o Estatuto da Cidade
Área de lazer aos finais de semana
Em 1989, a prefeitura determinou o fechamento do Minhocão durante os domingos.
Com isso, a região passou a ser um local de lazer aos finais de semana, onde as pessoas vão andar de bicicleta, fazer caminhadas, entre outras atividades.
Em 2018, com a Lei do Parque Minhocão (falaremos mais sobre ela ao longo do texto), o elevado passou a ser fechado para os carros durante todo o final de semana. O atual horário de funcionamento do Minhocão para pedestres é: de segunda a sexta-feira, das 20h às 22h, / fins de semana e feriados, das 7h às 22h.
Veja também: Afinal, o Edifício Copan foi projetado por Oscar Niemeyer? Entenda!
Por que o Minhocão foi criticado desde o começo?
As críticas ao Minhocão são quase uma unanimidade entre arquitetos e engenheiros desde a criação do projeto.
O argumento principal para a sua criação foi solucionar um problema que atingia várias cidades pelo mundo na primeira metade do século XX: a falta de vias que ligassem bairros e permitissem o aumento da circulação de carros.
A construção de elevados foi a solução encontrada por vários gestores no mundo, que enxergavam nessas obras uma forma de agradar uma parte da população motorizada e também empresários.
Mas o impacto urbano na construção dessas grandes vias começou a ameaçar o bem-estar da população, que foi perdendo cada vez mais espaço de locomoção e moradia.
Um caso emblemático aconteceu em Nova York nos anos 50. O engenheiro responsável pelo planejamento da cidade, Robert Moses, apresentou o projeto do Lower Manhattan Expressway.
Tratava-se de uma via expressa que cortaria toda a Washington Square e seria a responsável pela demolição dos bairros SoHo, Little Italy, Greenwich Village e parte de Chinatown.
A jornalista e ativista Jane Jacobs promoveu uma série de manifestações que fizeram o projeto ser cancelado.
Enquanto o projeto do elevado americano foi cancelado, o Minhocão não teve o mesmo destino.
A obra foi inaugurada em meio a diversas críticas. Além das questões urbanísticas, jornais da época alegaram que não havia um objetivo definido com o Minhocão, já que não houve nenhuma pesquisa de origem e destino da população ou argumentos técnicos para o projeto.
Veja também: Saiba tudo sobre Urbanismo e inspire-se com os maiores urbanistas do mundo!
A polêmica do Parque Minhocão
A construção do Parque Minhocão é um assunto que espera uma definição há muitos anos.
Tudo começou em julho de 2014, quando o Plano Diretor da Cidade de São Paulo determinou a desativação do Minhocão. As opções dadas foram a demolição ou a transformação, parcial ou integral, em um parque suspenso.
Em 2017, o urbanista Jaime Lerner fez a doação de um projeto para a prefeitura da cidade com a proposta do Parque Minhocão.
Em 2018, foi promulgada a Lei Municipal 16.833/18, que prevê a criação do Parque Minhocão e a desativação gradativa do elevado.
Tudo parecia certo para que a prefeitura iniciasse a obra, inclusive houve ampla divulgação de como seria iniciada a primeira etapa de desativação.
Mas em junho de 2019, a Justiça suspendeu a lei que cria o Parque Minhocão argumentando que ela é inconstitucional.
Também foi alegado que faltam mais estudos para definir se a melhor opção é o parque ou demolição do Minhocão.
A suspensão durou até outubro, quando o TJ-SP derrubou a liminar e abriu caminho novamente para a construção do Parque Minhocão.
Já em 2021, o Tribunal de Justiça considerou procedente um pedido feito pelo Ministério Público considerando a criação do parque inconstitucional.
A última atualização é de maio de 2022, quando os Vereadores de São Paulo recorreram à decisão do Tribunal de Justiça e levaram a decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF) – Leia mais nessa matéria do G1.
Agora é aguardar cenas dos próximos capítulos e esperar a decisão final sobre o destino do Minhocão.
Veja também: Mercado Municipal de SP – História, Arquitetura e +5 Motivos Para Visitá-lo
5 curiosidades sobre o Minhocão
1- Mudança de nome
Em julho de 2016, o Elevado Costa e Silva teve o nome mudado para Presidente João Goulart.
O primeiro nome era uma homenagem ao marechal que foi o segundo presidente da ditadura militar.
A mudança foi uma iniciativa do programa Ruas da Memória, criado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.
O objetivo é alterar o nome de 40 vias que prestam homenagem a pessoas vinculadas à repressão do regime militar.
2- Ritmo acelerado na construção
A rápida entrega do Minhocão foi resultado de uma jornada de trabalho árdua de 950 homens, que trabalhavam 16 horas por dia, totalizando seis milhões e 80 mil horas.
3- Congestionamento no primeiro dia
O Minhocão passou pelo seu primeiro congestionamento logo na inauguração.
Ele foi causado por um carro que quebrou e, devido a pequena quantidade de acessos e saídas, os outros motoristas não conseguiram fazer uma rota alternativa.
4- Lotação em horário de pico
De acordo com a CET, no horário de pico da manhã (das 7h às 10h) passam pelo Minhocão, em média, cerca de 18.800 veículos. Já durante o horário de pico da tarde (das 17h às 20h) são cerca de 12.800 veículos.
5- Cenário de manifestações artísticas
Os pilares do Minhocão costumam receber intervenções urbanas e várias manifestações artísticas que buscam levar reflexão e beleza para a região.
Em 2017, foi aprovado pela prefeitura o projeto de lei que visa criar um Museu de Arte Embaixo do Minhocão, mas o processo caminha a passos lentos.
Veja alguns exemplos de manifestações artísticas incríveis no Minhocão:
E aí, o que você acha sobre o Parque Minhocão? Compartilhe com a gente nos comentários.