Quando falamos sobre urbanismo, é impossível não citar as ideias de Jan Gehl.
O arquiteto dinamarquês com mais de 50 anos de carreira é conhecido mundialmente pela defesa da qualidade de vida urbana.
Os projetos criados a partir da consultoria de Jan Gehl podem ser vistos em várias cidades pelo mundo, inclusive no Brasil.
Jan Gehl é o criador do termo “Síndrome de Brasília”, que faz duras críticas ao projeto icônico de Oscar Niemeyer. Quer descobrir quais são elas?
Neste artigo, vamos mostrar as principais ideias de Jan Gehl, seus projetos e porque ele é um dos urbanistas mais respeitados do mundo. Boa leitura!
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Jan Gehl: biografia
Jan Gehl nasceu em 1936 na cidade de Copenhague (Dinamarca). Em 1960, ele formou-se arquiteto na Real Academia de Belas Artes de Copenhague, onde posteriormente também lecionou por vários anos.
Foi lá que Jan Gehl deu início aos seus estudos sobre mobilidade urbana com a realização de várias pesquisas acadêmicas.
Em 1962, Jan Gehl passou a observar a rua Strøget, principal via de pedestres da cidade recém-inaugurada na época.
Jan Gehl analisava como as pessoas usavam o espaço, que não tinha acesso a carro, em diversas situações, como dias de chuva, dias de festas e principalmente, na rotina do dia a dia.
Para Jan Gehl, o planejamento urbano deve priorizar pedestres, ciclistas e a ocupação de espaços públicos.
Jan Gehl acredita que o planejamento urbano feito pelas cidades nos últimos 50 anos não favorece a locomoção de pessoas, já que passamos a maior parte do tempo sentados, seja no trabalho, no transporte público ou em carros.
Inclusive, o crescimento do uso de automóveis também é criticado por Jan Gehl, que defende medidas ousadas como o aumento do combustível para a diminuição do uso dos veículos.
Os estudos de Jan Gehl contribuíram diretamente para que Copenhague, 50 anos depois do início de seus estudos, seja considerada umas das cidades mais amigáveis para as pessoas.
A cidade é conhecida pela sua extensa quantidade de ciclovias, que ajudam tanto na locomoção como redução de da poluição.
A cidade chegou a ser eleita pelo guia de viagem “Lonely Planet” como a melhor cidade do mundo para se visitar.
Jan Gehl atua como consultor e palestrante, viajando por vários países para falar sobre a importância do planejamento urbano para a saúde física e mental das pessoas.
Em 2020, foi comemorado os 20 anos do escritório de Jan Gehl dedicado a desenvolver uma abordagem baseado na percepção do comportamento das pessoas no espaço, oferecendo assim estratégias urbanas e serviços de design que priorizem suas necessidades.
Afinal, o que Jan Gehl defendia?
Jan Gehl defende a construção de cidades mais humanas. Jan Gehl enxerga o planejamento urbano como uma plataforma para as pessoas serem felizes.
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Jan Gehl: obras
Em 2000, Jan Gehl fundou a empresa de consultoria Gehl Architects. O arquiteto deu consultoria e cursos para o governo de várias metrópoles como São Francisco, Melbourne, Sydney, Nova York, Moscou, São Paulo e Rio.
A partir de suas sugestões, foram realizadas intervenções que contribuíram para deixar bairros mais amigáveis. Veja alguns exemplos:
São Paulo
- Espaço de descanso e convivência no centro da cidade (Largo do Paissandú)
Nova York
- Rua fechadas e criação de ciclovias
Chongqing (China)
- Rota Pedonal 3, um espaço urbano criado para incentivar caminhadas e interações sociais.
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Jan Gehl: Cidades para pessoas
Jan Gehl publicou vários livros, mas, sem dúvida, o mais aclamado é o Cidades para Pessoas, publicado em 2010.
De acordo com Jan Gehl, o livro é uma espécie de protesto sobre as ideias de planejamento urbano dominantes na segunda metade do século XX.
Entre elas, está o conceito de que não é possível colocar lado a lado residências, transporte público, locais de trabalho e espaços de convivência.
Jan Gehl nomeou essa separação dos espaços urbanos de “Síndrome de Brasília”, já que para ele a cidade projetada por Oscar Niemeyer é o maior exemplo desse fenômeno negativo.
Brasília é interessante, porque é incrível vista do avião. Parece muito interessante de um helicóptero. Mas, lá embaixo, onde as pessoas estão, ao nível do olho, ela não é nada bonita. Os construtores não pensaram nas pessoas nas ruas, entre os prédios. Apenas fizeram os prédios. Sobrou um espaço entre eles, daí chamaram alguns paisagistas para fazer uma jardinagem. Olharam pela janela para ver se as pessoas estavam felizes, mas não estavam
– Jan Gehl, em entrevista para o site Um Brasil.
Dentro desse contexto, Jan Gehl é um crítico da arquitetura moderna, já que considera que o movimento arquitetônico descartou características das cidades antigas que favorecia a qualidade de vida dos moradores.
Uma delas é a aproximação com a comunidade, que diminuiu com a construção de prédios afastados uns dos outros.
Uma das principais influências de Jan Gehl é a urbanista jornalista norte-americana Jane Jacobs, uma referência na criação de várias teorias urbanísticas como o desenho urbano.
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Livros de Jan Gehl
- Life between buildings: using public space
- How to Study Public Life (coautoria de Birgitte Svarre)
- Novos espaços urbanos (coautoria de Lars Gemzoe)
- Byens rum, byens liv
- New City Life (coautoria de Lars Gemzøe, Sia Karnaes e Britt Sternhagen)
Frases de Jan Gehl
O segredo é que, para fazer uma cidade com alta densidade e prédios baixos você precisa ser um bom arquiteto. Se não é um bom arquiteto, você sempre pode fazer um edifício mais alto
Ralph Erskine disse uma vez que, para ser um bom arquiteto, você precisa amar as pessoas. Porque arquitetura é uma arte aplicada e lida com a moldura da vida das pessoas. Os edifícios emolduram nossas vidas.
Eu acredito que boa arquitetura não é apenas forma, porque isso é escultura. Boa arquitetura é a interação entre forma e vida.
As ideias de Jan Gehl transformaram grandes metrópoles e nos ajudam a refletir sobre o papel da arquitetura na sociedade. Conheça outros arquitetos que também fizeram história:
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