Dizem que a simplicidade é essencial para uma boa arquitetura.
Nesse contexto, existem alguns estilos que se destacam. Neste artigo, você vai descobrir o que é o cobogó, suas principais características e obras mais famosas que usam o cobogó. Acompanhe!
O que é cobogó?
O cobogó é um dos elementos construtivos mais simples e charmosos da arquitetura.
Ele se assemelha a um tijolo vazado. Na maioria das vezes, tem uso popular e é feito de forma artesanal. Mas também pode ser um produto da indústria e ser empregado em estruturas complexas de engenharia civil.
A principal função do cobogó é a possibilidade de ventilar e iluminar melhor os ambientes dos imóveis. Ele possibilita a privacidade do local, resguardando as pessoas num primeiro momento, mesmo que a parede seja vazada.
Só que a repetição de seus módulos não é admirada pelos projetistas por essas questões funcionais, mas sim pelo importante aspecto decorativo e estético.
Veja a história de outro material construtivo:
A história do cobogó
Inicialmente, os cobogós eram feitos apenas de cimento. Com sua popularização, na década de 50, eles passaram a ser moldados com outros materiais, como argila e vidro.
Muitas peças ganharam acabamento com tinta látex, acrílica ou esmalte.
Houve mais possibilidades de personalização do produto, assim como dos ambientes.
Hoje, veem-se no mercado peças de diferentes tamanhos, formatos, cores e texturas.
São exemplos de tipos de cobogós estruturas com desenhos vazados em formato de xadrez, círculo, folha, flor, coração, estrela e ainda outros mais modernos.
No passado, os cobogós eram mais empregados em áreas externas de construções. Com o tempo, eles ganharam espaço nos interiores como divisórias de ambientes – separando lavanderias de cozinhas, por exemplo -, em substituto das venezianas.
Em regiões mais quentes, o seu uso é estratégico para manter a temperatura das moradias mais fresca, uma solução barata que filtra o sol e garante a ventilação.
Adiciona um ar poético aos ambientes, já que a forma como ele desenha a luz nos espaços pode se alterar ao longo do dia e até conforme a época do ano.
– arquiteto Pedro Kastrup, em reportagem de O Globo.
Além da questão estética, o desempenho do cobogó demonstrou ser aliado à economia de energia! Por isso, ele pode ser visto empregado em arquiteturas sustentáveis.
A origem do cobogó
O cobogó foi criado em 1929 por um grupo de engenheiros brasileiros – Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis.
O nome da peça é, justamente, a junção das primeiras letras de seus sobrenomes. Essa palavra sofreu variações, como “combogó”.
A invenção de Amadeu, Ernest e Antônio foi inspirada em elementos característicos da arquitetura árabe, os muxarabis.
Tratam de simples treliças de madeira, que são utilizadas como fechamento de janelas e balcões.
É comum vê-las nas construções da Índia e do Marrocos, mas até a arquitetura colonial brasileira tem seus exemplares.
Embora não esteja explícito no Al Corão, a prática islâmica proíbe representações artísticas de qualquer elemento vivo. Isso porque a perfeição das criações divinas, supostamente, jamais poderia ser alcançada por mãos humanas.
Então, seus artistas se especializaram em formas geométricas e arabescos. Os muxarabis são uma consequência. Eles podem ser vistos desde em mesquitas a objetos pessoais.
Exemplos de Muxarabis pelo mundo
As vantagens e desvantagens do cobogó
Os engenheiros brasileiros ficaram muito satisfeitos quando perceberam que, de fato, os cobogós ajudavam as casas nordestinas a ficarem mais frescas.
Além disso, o material valorizava os ambientes. Só que havia um problema: os módulos não suportavam cargas, ou seja, eles não têm função estrutural.
Acontece que o cobogó é um material muito frágil. Uma parede feita com até 1,80m não precisa ser fixada no chão ou receber algum tipo de reforço, seu próprio peso já é suficiente para fazer o sistema ficar firme.
Agora, para uma estrutura maior, indica-se a utilização de uma barra de metal afixada a cada duas fileiras. Mesmo assim, o conjunto jamais deverá ser usado como base de apoio.
Cobogós sobrecarregados podem apresentar fissuras nas juntas. Consequentemente, o não rejuntamento pode comprometer a estanqueidade do elemento construído e aumentar outra de suas desvantagens, a ausência de vedação acústica.
Exemplos de obras com cobogó
Uma das primeiras obras de construção civil a receber cobogós foi a caixa d’água de Olinda, projetada por Luiz Nunes e construída em 1934.
Mas de todos os arquitetos brasileiros, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer são os que mais aplicaram esse elemento em seus projetos. Um exemplo são as obras que fizeram parte do Plano Piloto de Brasília, como a Biblioteca Nacional.
Depois dos anos 40 e 50, o cobogó recebeu mais atenção dos projetistas. Sua fama ganhou o mundo.
Foi quando o elemento passou mesmo a fazer parte das obras modernas, como as de Olavo Redig e Jorge Moreira.
Só que depois dos anos 60, com o avanço das tendências internacionais, ele acabou tornando-se sinônimo de depreciação imobiliária, caindo, portanto, em desuso.
O conceito do modernismo de utilizar materiais industriais com toda a sua verdade, deixando-os expostos como são e, ao mesmo tempo, tentando fazer uma arquitetura econômica, encontra no cobogó um material de aplicação para a arquitetura nova que se pretendia fazer.
– Cristiano Borba, em reportagem de AECweb.
Recentemente, a arquitetura passou a fazer uma revisão das práticas do passado e começou a resgatar técnicas e materiais já esquecidos.
O cobogó retornou com força total. Ele foi igualado a muitas peças tridimensionais produzidas para a construção civil.
Nos dias de hoje, é considerado um elemento importante para solucionar vários casos de arquitetura – em especial, a sustentável.
Obras com cobogó:
- O Pavilhão de Nova York, projetado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer;
- Residência no Parque Eduardo Guinle, por Lúcio Costa;
- A Biblioteca Nacional de Brasília, de Oscar Niemeyer;
- O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, por Affonso Eduardo Reidy;
- FDE – Escola Várzea Paulista, por FGMF Arquitetos.
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A Casa Cobogó
Na história da arquitetura brasileira, existem muitos casos de projetos que foram apelidados de “casa cobogó”. Confira alguns exemplos:
- Casa do Balão Vermelho, por Leo Romano;
- Residência no Morumbi, por Oswaldo Bratke;
- Casa Jardins, por CR2 Arquitetura;
- Casa Cobogó, por Ney Lima;
- Casa Moreira Salles, por Olavo Redig de Campos;
- Casa b+b, por Studio Mk27.
Mas existe uma que mais se destaca em publicações de revistas e sites especializados: a Casa Cobogó de Marcio Kogan.
A Casa Cobogó de Marcio Kogan
A Casa Cobogó projetada por Marcio Kogan, do Studio MK27 – em coautoria com Carolina Castroviejo -, está localizada em São Paulo.
Ela é um dos melhores exemplos de arquitetura de abordagem sustentável com a utilização de elementos vazados.
O desenho dos cobogós vistos nessa obra é de autoria do artista austro-americano Erwin Hauer – que desde os anos 50 faz esculturas para espaços construídos.
Kogan decidiu erguer uma residência com a incorporação de muitas curvas infinitas. Essa é só uma das várias referências que ele buscou da arquitetura moderna brasileira.
Outra é o próprio cobogó. O elemento pode ser visto em um painel inteiro. Os módulos da série “Continua”, por Hauer, diferem dos tradicionais. Isso porque eles foram criados através de meios digitais – com o software da Gehry Technologies.
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