A Casa Modernista da Rua Santa Cruz, projetada por Gregori Warchavchik, é uma das obras mais importantes da arquitetura brasileira.
Ao longo da história, foram criados projetos muito especiais que inovaram e representaram alguma mudança na forma de conceber os espaços.
Essa casa localizada em São Paulo (SP) é um exemplo de obra revolucionária.
Construída nos anos 20, a Casa Modernista impactou a população por sua falta de ornamentos, pintura discreta e formato “quadrado”, características, até então, inéditas em uma casa.
O que as pessoas não podiam imaginar é que essa obra entraria para a história como a primeira casa modernista do Brasil.
Mas, afinal, como tudo começou?
Neste artigo, vamos contar um pouco da trajetória de Gregori Warchavchik, as influências do seu trabalho e como foi a construção da Casa Modernista. Acompanhe!
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Gregori Warchavchik: o arquiteto da primeira casa modernista do Brasil
Gregori Warchavchik nasceu em 1826, em Odessa, na Ucrânia.
Pouco se sabe como foi sua infância e juventude até sua imigração para a Itália, em 1918.
Lá, ele seguiu para Roma e estudou arquitetura no Instituto Superior de Belas-Artes.
Após formar-se, o arquiteto da casa modernista começou a atuar em diversos escritórios de arquitetura e construção, trabalhando em projetos residenciais e comerciais.
Os primeiros registros de projetos de Gregori são desse período, em que ele já se mostrava interessado em usar volumes básicos e materiais aparentes em suas obras — bem diferente de toda a ornamentação da arquitetura italiana.
Depois de 2 anos e meio atuando profissionalmente na Itália, Warchavchik desembarca no Rio de Janeiro em 1923.
Como ele trouxe muitas recomendações dos seus chefes italianos, logo conseguiu um emprego na Companhia Construtora de Santos.
Essa empresa foi a responsável por grandes projetos na época e foi umas das pioneiras na modernização de processos administrativos, já que contava com um grande número de funcionários e escritórios pelo Brasil.
Diante dessa realidade, Warchavchik conheceu a construção taylorizada, ou seja, que está inserida no ambiente empresarial – que preza pela racionalidade e a máxima economia de esforço.
O arquiteto da casa modernista, então, começou a refletir sobre essas questões e escreveu o artigo “Acerca da arquitetura moderna”, publicado no jornal carioca Correio da Manhã em 1925. O texto é considerado o primeiro manifesto da arquitetura moderna no Brasil.
Questões como a racionalidade construtiva, antidecorativismo e economia começavam a fazer parte de seu discurso.
Chegada a São Paulo
Em 1923, Warchavchik desembarca em São Paulo.
Nessa época ele teve contato direto com artistas do movimento modernista, principalmente com Lasar Segall, que posteriormente virou seu concunhado.
Em 1927 ele abre seu escritório em São Paulo, casa-se com Mina Klabin e naturaliza-se brasileiro.
O arquiteto da casa modernista, então, decide projetar sua própria casa, sua primeira obra como profissional autônomo. E foi com ela que ele entrou definitivamente para a história da arquitetura brasileira.
O trabalho de Warchavchik encantou a todos, mas você não precisa construir uma casa modernista para encantar seu cliente. Confira nossas dicas práticas e aprenda gratuitamente a fechar mais projetos:
Características da primeira casa modernista do Brasil
A primeira casa modernista do Brasil fica na rua Santa Cruz, na Vila Mariana.
Ela foi construída no terreno da família da esposa de Warchavchik, que tinha cerca de 13 mil metros quadrados. Esse enorme espaço foi ideal para a construção da casa modernista e de um belo jardim.
As principais características da casa modernista são:
- Alvenaria de tijolos
- Concreto armado
- Piso de taboado
- Telha de barro
- Fachada livre
- Janela em fita
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O projeto inteiro da casa modernista foi criado e executado pelo arquiteto, desde as plantas, passando pela construção até a decoração. Ele só não criou o paisagismo, que ficou por conta da sua esposa.
O projeto realizado por ela para a cada modernista é considerado pioneiro por utilizar espécies tropicais em um jardim residencial.
A casa modernista foi impactante para a época porque não tinha nenhum tipo de ornamentação e era formada por volumes prismáticos brancos.
Para que você possa comparar, essa é uma casa construída na cidade de São Paulo em 1925 seguindo o estilo tradicional da época.
Dá pra perceber que as diferenças da casa modernista são muitas, principalmente em relação à fachada. E foi justamente ela que obrigou Warchavchik a “camuflar” o projeto da casa modernista.
Para que a obra recebesse a aprovação da Prefeitura, ele precisou incluir alguns ornamentos na planta da casa modernista, quesito obrigatório naquela época.
Após a finalização da obra, ele alegou que não teve verba suficiente para terminar a fachada da casa modernista.
Mas esse não foi o único desafio enfrentado pelo arquiteto na construção da casa modernista. O valor de alguns materiais, como o cimento e o vidro, a falta de mão de obra qualificada e de acessórios construtivos também foram alguns dos problemas enfrentados.
Ele enviou uma carta compartilhando essas dificuldades para Siegfried Giedion, secretário do CIAM (Congrès Internationaux d’Architecture Moderne), organização que reunia os principais nome da arquitetura moderna do mundo.
Planta da primeira casa modernista do Brasil
Reformas e tombamento
Em 1935, a casa modernista passou por uma reforma para se adequar ao crescimento da família.
O acesso principal da casa modernista foi transferido para a lateral do imóvel, onde acrescentaram uma marquise.
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A cozinha da casa modernista foi aumentada e a varanda deu lugar a uma ampliação da sala de estar. Também foi incluído um terraço novo e o piso superior ganhou algumas modificações, como a inclusão de um sanitário, um closet e um quarto de costura.
A família de Warchavchik residiu na casa modernista até meados dos anos 70, quando decidiram vendê-la.
Nos anos 80 uma construtora quis implantar na área da casa modernista um condomínio residencial, ideia que foi rejeitada pelos moradores do bairro. Eles se mobilizaram e criaram a Associação Pró-Parque Modernista, que defendia a casa modernista e sua valiosa área verde.
Essa movimentação fez com que a casa modernista fosse tombada pelo Condephaat , seguido pelo Iphan e Conpresp.
Após o tombamento, os proprietários da casa modernista entraram na justiça em um processo que durou 10 anos. Nesse período, o imóvel se deteriorou.
Só nos anos 2000 começou uma série de reformas e restauros, que transformaram a casa modernista em um espaço de estudo sobre o modernismo em São Paulo, além de uma bela área verde para passeio.
A casa modernista contribuiu muito para a popularização da arquitetura moderna no Brasil, que teve seu ápice com a construção de Brasília, projetada por Oscar Niemeyer.
Apesar de não ser tão lembrado, Gregori Warchavchik é, sem dúvida, um dos nomes mais importantes da arquitetura brasileira.
Endereço da Casa Modernista
Endereço: Rua Santa Cruz, 325 – Vila Mariana – São Paulo – SP
Telefone: (11) 50833232
Site: http://www.museudacidade.sp.gov.br
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