Arquitetura vernacular é aquela feita com recursos naturais e técnicas próprias da região onde a edificação está inserida. Sendo assim, ela está diretamente relacionada ao contexto, condições geográficas e aspectos culturais de cada local do mundo e, por isso, também é considerada uma afirmação da identidade da cada região.
Cada local do planeta possui suas singularidades. E essas diferenças, incluindo questões tecnológicas, econômicas, históricas e ambientais, acabam se refletindo na arquitetura.
A questão-chave motivadora para a construção dos primeiros abrigos ao redor do mundo foi a autopreservação, a necessidade humana de se abrigar contra as intempéries. E as soluções para isso evoluíram com o tempo, se transformando em exemplos de arquitetura vernacular.
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O que é arquitetura vernacular?
Arquitetura vernacular é aquela feita com recursos naturais e técnicas próprias da região onde a edificação está inserida. Sendo assim, ela está diretamente relacionada ao contexto, condições geográficas e aspectos culturais de cada local do mundo e, por isso, também é considerada uma afirmação da identidade da cada região.
Ela já foi definida como “primitiva”, quando os povos encontraram as maneiras mais práticas de erguer suas moradas com o recursos naturais que dispunham.
Trata-se de uma arquitetura sem arquitetos, um conjunto de habilidades dos construtores locais que era passada de geração a geração.
A arquitetura vernacular só foi analisada pelos especialistas na virada do século XX.
Arquitetos como Frank Lloyd Wright e Le Corbusier pesquisaram o tema e criaram em seus trabalhos versões renovadas desses estilos típicos.
Wang Shu é outro arquiteto que aposta na arquitetura vernacular. Conheça sua história em nosso post.
E analisando melhor suas características, a distinção do que era a arquitetura vernacular ficou mais clara e valorizada.
Nos anos setenta, diante do debate sobre a questão ambiental, esse tipo de arquitetura passou a ser associada à sustentabilidade e houve um expressivo aumento no interesse também por parte dos acadêmicos.
O erro pode estar em tomar a visão formal, material ou estrutural das formas (…). É melhor (…) considerar (…) contexto de seu meio e (…) capacidade de atender aos valores e necessidades das sociedades que as construíram.
– Paul Oliver, em site Vitruvius sobre a arquitetura vernacular
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Características da arquitetura vernacular
A principal característica da arquitetura vernacular no mundo é o respeito e a sensibilidade às condições locais do meio geográfico onde se situa, como o clima e a vegetação.
Geralmente, a arquitetura vernacular é uma “amostra” do que se pode fazer, em termos de abrigo, com os recursos naturais disponíveis na região – pedra, barro, madeira, gelo e mais.
Por isso, algumas publicações também chamam a arquitetura vernacular de “popular” ou “tradicional”.
Outra característica da arquitetura vernacular é a simplicidade. Normalmente, ela é produzida por povos que dispõem de um nível tecnológico menos avançado.
Eles tomam materiais diretamente do meio ambiente, só que agredindo menos a natureza.
E as soluções arquitetônicas utilizadas na arquitetura vernacular, combinadas aos materiais orgânicos, acabam possibilitando um melhor isolamento térmico e acústico para as edificações.
Embora apresente boas qualidades, a arquitetura vernacular é, às vezes, considerada repetitiva e ultrapassada por pessoas sem o devido conhecimento técnico.
Essa crítica à arquitetura vernacular é totalmente equivocada. Os bons profissionais já sabem que a inovação está em saber empregar elementos simples e naturais para o conforto e o convívio social.
Cabanas, iglus ou ocas não são casas pobres, mas o retrato da identidade de um povo.
Arquitetura vernacular pode ser dito àquela linguagem arquitetônica das pessoas, com seus ‘dialetos’ étnicos, regionais e locais.
– Paul Oliver, autor da ‘Enciclopédia da Arquitetura Vernacular do Mundo’.
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Características gerais da arquitetura vernacular no mundo
Em regiões de clima frio:
- Proximidade entre edificações;
- Telhados de inclinação média;
- Estruturas elevadas do chão;
- Uso de materiais de baixa emissividade térmica;
- Paredes espessas;
- Fachadas com aberturas amplas, apenas nas faces mais iluminadas.
Em regiões de clima quente e seco:
- Proximidade entre edificações;
- Telhados planos;
- Estruturas diretamente sobre o solo;
- Uso de materiais pesados;
- Paredes espessas;
- Fachadas em cores claras e com aberturas pequenas;
- Pátios internos com fontes ou espelhos d’água.
Em regiões de clima úmido:
- Edificações afastadas umas das outras;
- Telhado com grande inclinação;
- Beirais e varandas;
- Estruturas elevadas do chão;
- Uso de materiais leves;
- Paredes de pouca espessura;
- Fachadas com aberturas que permitam ventilação cruzada.
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Exemplos de arquitetura vernacular brasileira
Para muitos, a arquitetura vernacular brasileira se restringe apenas às obras indígenas.
Mas seus atributos são a permanência no tempo, o caráter local ou regional e a prevalência das necessidades funcionais sobre a estética.
Portanto, outras arquiteturas brasileiras, principalmente de origem rural, podem ser destacadas.
Um dos maiores apoiadores da investigação sobre a arquitetura vernacular foi o arquiteto Lúcio Costa.
Por todo o território nacional há casas construídas em madeira, pedra, tijolo, taipa de mão, taipa de pilão e adobe que podem ser classificadas como vernáculas.
No norte, têm-se as casas sobre palafitas e as casas dos babaçuais.
No centro, a cidade de Ouro Preto é um bom exemplo. Já no sudeste, as favelas.
E a arquitetura vernacular é uma das mais ricas, com vários tipos diferentes de manifestações arquitetônicas.
Características da arquitetura vernacular nordestina
- As edificações são compactas, próximas umas das outras no alinhamento da calçada e com recuo de fundos e laterais estreitos.
- Os espaços internos possuem dimensões reduzidas. Algumas atividades precisam ser desenvolvidas do lado de fora das casas.
- Os pisos, em maioria, são cimentados.
- As aberturas são pequenas. Elas existem apenas nas paredes não voltadas para o sol. E poucas vezes vê-se o emprego do vidro.
- As paredes são finas. Algumas casas usam a argila condensada numa estrutura de madeira fina e irregular.
- Não há forro sob as coberturas ou outro isolamento térmico.
- Árvores são plantadas próximas às moradias para proteção contra os raios solares.
- Na parte externa também ficam os banheiros e os tanques de lavar roupas.
- E por fim, as coberturas são altas e inclinadas.
Algumas casas de arquitetura vernacular nordestina têm seu fechamento feito com troncos de babaçu, um tipo de coqueiro nativo da região.
A nova arquitetura popular brasileira
A arquitetura adquiriu novas características na contemporaneidade.
A vernacular tradicional, típica arquitetura vernacular do Brasil, por exemplo, usava muito técnicas à base de argila, cascalho e palha seca.
Mas para enfrentar certos problemas construtivos, o país acabou incorporando materiais industrializados e tipologias de lugares de climas diferentes, como a Europa e os Estados Unidos.
Outras questões que provocaram essa transformação na arquitetura vernacular foram mudanças dos hábitos das pessoas, escassez de algumas matérias-primas e pressão da economia global.
Principalmente nas favelas ou em bairros informais espontâneos, é possível ver arquiteturas do tipo vernacular sendo feitas com refugo de obras e materiais encontrados no lixo, como plásticos de garrafa PET, ou latas e garrafas de cerveja.
A arquitetura vernacular não foi a única a impactar o Brasil. Saiba como a arquitetura moderna brasileira mudou a cara do país.
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Livros sobre arquitetura vernacular
A arquitetura popular é um conceito pouco difundido no meio acadêmico mundial.
Porém, já existem no mercado excelentes fontes bibliográficas que apresentam, em detalhes, soluções de arquitetura vernacular
Veja, a seguir, uma lista completa com os melhores títulos de livros sobre arquitetura vernacular.
- Architecture Without Architects, por Bernard Rudofsck;
- Arquitetura Popular Brasileira, por Gunter Weimer;
- Arquitetura Vernacular Praieira, por Genival Junior;
- Buildings Without Architects, por John Way;
- Built to Meet Needs: Cultural Issues in Vernacular Architecture, por Paul Oliver;
- Dwellings: The Vernacular House World Wide, por Paul Oliver;
- Handmade Houses & Other Buildings: The World of Vernacular Architecture, por John May;
- Iglu: da Arquitectura Vernacula A Contemporanea, por Alejandro Bahamón e Ana Cañizares;
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