Construir cidades que colaboram com a qualidade de vida das pessoas se tornou o alvo da arquitetura e do urbanismo deste novo século. A visão de uma arquitetura com identidade e o fomento de um urbanismo destinado às pessoas vêm para transformar as cidades brasileiras em locais menos opressores.
Nessa visão de cidade voltada ao conforto das pessoas, a arquitetura tem um papel muito importante: o de abrigar e transformar. E as mudanças vão além das edificações ou moradias nas quais as pessoas vivem.
Passam pelas calçadas com árvores, se estendem ao transporte público ou individual de qualidade, não poluente, e desembarcam em algum local de trabalho ou lazer com conforto ambiental, cumprindo um papel integrador entre as edificações com os espaços das cidades.
Em tempos de mudanças climáticas, já percebemos que nossas casas ou escritórios estão se tornando insalubres sem o ar-condicionado, portanto, temos nos fechado para a cidade, para a luz do dia e o vento, elementos importantes para a manutenção do conforto térmico e lumínico das nossas construções.
Isso colabora para que as casas e edifícios sejam construídos sem o devido conforto ambiental, com a utilização de materiais e decisões de implantação que prejudicam o uso e as temperaturas internas e externas.
É ultrapassada a ideia de que utilizar alguns materiais, como a pele de vidro refletivo, é algo imponente para a arquitetura brasileira. Muitos arquitetos e arquitetas ainda acreditam que a única saída técnica e estética para lançar empreendimentos fabulosos e de grande impacto é a arquitetura envidraçada, muito utilizada em países da Europa e América do Norte.
Entretanto, precisamos pensar que essa solução não é a melhor se tratando de um país como o Brasil, pois esses materiais absorvem e refletem a radiação solar e, consequentemente, o calor, aquecendo internamente e o entorno das edificações.
Observem como é desconfortável ocupar e permanecer em espaços que recebem o reflexo do sol destes edifícios.
Portanto, qual é o motivo de ainda serem projetadas arquiteturas inadequadas ao clima brasileiro?
É preciso/necessário olhar com cuidado para esta questão, já que, por mais que os cursos de graduação em arquitetura abordam o tema com disciplinas específicas, ainda existe a sobreposição da preocupação estética em detrimento do conforto.
É importante que arquitetos, arquitetas, empresas do mercado imobiliário e investidores tenham em mente que o conforto ambiental adequado às zonas bioclimáticas brasileiras melhora a vida das pessoas que utilizam os ambientes internos e que vivem e transitam pelo entorno que a obra está ou será implantada.
Pensar edifícios com conforto ambiental também está diretamente conectado à eficiência energética da construção, pois projetar a arquitetura utilizando os conceitos bioclimáticos trará redução do consumo energético com a menor utilização de luz artificial e ar-condicionado, por exemplo.
Além disso, há a possibilidade de produzir energia limpa por meio de placas solares, o que já é uma realidade implantada nos telhados e coberturas brasileiras.
Acreditar que a arquitetura bioclimática é uma saída para termos cidades que consomem menos energia, com edificações mais confortáveis e conectadas à qualidade de vida das pessoas em suas ações diárias é uma linha de raciocínio viável e que é utilizada em todos os locais do mundo de formas pontuais, mas que precisam se transformar em ações ampliadas.
Vale dizer que essas soluções sobrevivem desde o início das civilizações ocidentais e orientais, afinal, sempre buscamos locais para nos abrigarmos que nos protejam do calor ou do frio e é neste ponto que precisamos nos dedicar para termos cidades e edificações com mais conforto, menos gasto energético e respeito ao meio ambiente.