Pode parecer inacreditável, mas a África ainda mantém-se como um continente desconhecido para a maioria das pessoas.
É um território muito grande, com uma cultura bastante diversificada, que influenciou a de muitos outros países, como o Brasil.
Também tem uma infinidade de grupos étnicos e linguísticos que foram pioneiros na arquitetura, desenvolvendo as suas próprias tradições.
O fato é que os primeiros colonizadores subestimaram a riqueza de sua arte, pois consideravam seus povos muito primitivos e exóticos.
Essa denominação englobava todas as raças do continente, sem qualquer exceção.
Somente no século XX é que os estudiosos da Europa, principalmente os antropólogos, se dedicaram a entender a cultura africana, muito além dos estereótipos.
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A geometria na arquitetura africana
A Arquitetura Africana tem uma origem que quase se perde no tempo. Há 35.000 anos, algumas etnias desse continente já estavam desenvolvendo estudos na área da matemática, da geometria e da engenharia.
Elas propagaram esse saber por gerações principalmente através da transmissão oral, uma marca de sua cultura.
Há também regiões entre o Saara e o Sudão onde havia o uso da escrita Akan e Manding, que já documentavam esses conhecimentos arquitetônicos.
Sobre a geometria na arquitetura africana tradicional, uma expressão que se destaca é o uso de fractais.
A arquitetura africana representa, através de edificações e traçados urbanos, as formas aplicáveis ao nosso universo, tais como as organizações de planetas, pétalas de flores e conchas.
No estudo dos fractais veem-se as diferentes maneiras de representação de imagens reais e surreais através das curvas e outras estruturas irregulares ou fragmentadas.
Podem-se encontrar facilmente exemplos de fractais na natureza.
Essa é justamente, a maior inspiração da arquitetura africana, do seu urbanismo e da arte africana antiga, também.
Um exemplo é a vila Bai-la, na Zâmbia, onde a disposição das casas formam enormes anéis, que crescem de dentro para fora – os círculos são as casas das famílias.
Na aldeia de Logone Birni, em Camarões, as proporções geométricas se repetem seguindo outra regra.
A organização das edificações foi feita a partir de uma base retangular, partindo de uma repetição de fractais retangulares idênticos. O resultado é uma grade composta por vinte retângulos.
Já nas montanhas de Mandra, as etnias Kirdi usam na formação de suas construções e na organização de suas aldeias um design fractal chamado de “mokoulek”.
As casas, feitas em pedra, têm aparência de pequenos silos circulares. Outras edificações, bem maiores, parecem crescer em espiral à partir de um ponto no centro que tem formato quadrangular.
A arte africana na arquitetura
A arte africana na arquitetura se inspirou nos fractais e essas manifestações podem ser ainda vistas em exemplares antigos de sua arquitetura preservada.
Seus motivos são muito variados, mas a maioria exibe formas essencialmente geométricas e cheias de cores.
Gravuras assim cobrem paredes de palácios reais, celeiros e choupanas sagradas.
Além das pinturas, existem outras peças decorativas de arte africana. As máscaras são as que merecem destaque especial.
Para esses e outros tipos de esculturas, eram usados os seguintes materiais disponíveis: madeira, marfim, terracota, bronze, cobre, latão e ouro.
A arquitetura antiga africana
Na África é possível encontrar diferentes estilos de arquitetura.
O mais conhecido é o egípcio. Nessa região ocorreram várias manifestações artísticas, ao longo de muitos séculos.
A maioria delas servia à religião, ao estado e aos faraós.
A tipologia construtiva comum eram os templos. Mas, hoje, o que mais chama a atenção dos pesquisadores são as pirâmides.
A primeira pirâmide foi a de degraus, projetada pelo arquiteto Ihmotep, durante o governo do faraó Djoser.
Já as mais famosas são as da Necrópole de Gizé – além da Grande Esfinge, igualmente importante para a arquitetura egípcia.
Porém, no Sudão, também existem vários exemplares de pirâmides, que foram construídas durante o período do Império da Núbia antiga.
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Outras construções que devem ser comentadas são:
- As igrejas escavadas na rocha vulcânica de Lalibela, na Etiópia, como o Templo de São Jorge;
- A arquitetura do Saara indígena, com casas feitas de tijolo de barro vermelho e telhados revestidos com madeira de palmeira, como a Mesquita Chinguetti;
- As de Mali, com influência islâmica, como a Mesquita de Djenné;
- As da África do sul, com influência europeia.
Quanto às civilizações interioranas, os bantos tinham uma tipologia bem marcante, as cubatas.
Essas construções eram em formato de cone sobre um cilindro, ordenadas em fitas de acordo com os clãs, havendo também uma rua central.
Seu terreno, chamado de kraal, costumava ser cercado, pois esse tipo de agrupamento ficou conhecido como “sanzala” ou “quilombo”, também existente no Brasil.
Arquitetura vernacular africana
Infelizmente, a arquitetura vernacular africana foi confundida muitas vezes com escassez e pobreza.
Na época pré-colonial, a arquitetura africana era vernacular. Isso significa que os povos utilizavam materiais pertencentes à sua própria região, construindo em equilíbrio com o meio.
Cada tribo desenvolveu seu próprio método, baseado nas tradições.
Em geral, as choupanas eram erguidas com barro e fibras secas. Muitos exemplos estão documentados no trabalho de pesquisa do arquiteto Jon Sojkowski.
Em todo o território africano há exemplos de arquitetura vernacular:
- Em Gana há mesquitas, como a Ashanti, feitas com paredes de barro sustentadas por uma amarração de estacas;
- Em Camarões, as casas de Tolek têm cúpulas de terra compactada;
- Em Mali, existem edifícios e templos escavados nas montanhas, como os dogons, nas Falésias de Bandiagara.
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A arquitetura moderna africana
Além dos projetos antigos, também existem muitas boas propostas de arquitetura moderna africana.
Obras belíssimas, como as realizadas por Francis Keré, têm sido pouco divulgadas no meio acadêmico.
Talvez por isso tenham surgidos propostas controversas, como a Eko Atlantic City, em Lagos, na Nigéria.
Esse modelo urbano, tão falho, ignora as milhares de famílias que vivem em casas tradicionais de palafita.
Em contrapartida, o modelo urbano proposto pelo arquiteto Magnus Larsson, o ‘Dune’, atende melhor não só as necessidades humanas como as do meio ambiente.
A ideia é criar abrigos a partir da própria areia do deserto e controlar as dunas próximas à Sahel.
Além disso, seria feito um grande muro verde para regenerar as terras inférteis, proteger as periferias e proporcionar mais qualidade de vida aos moradores.
Quanto às construções modernas, se destaca as casas de garrafas da aldeia Sabon Yelwa, realizadas pela DARE, em parceria com a ONG Africa Community Trust.
Ou a proposta dos estudantes brasileiros Abiola Akandé Yayi e Robert Soares para o pavilhão em terra de Niamey, também na Nigéria.
E ainda a passarela em aço projetada por Mark Thomas para o Jardim Kirstenbosch, na África do Sul.
Veja, logo abaixo, outros exemplos da arquitetura moderna africana
- Capela Bosjes – África do Sul;
- Freedom Park – África do Sul;
- Museu da Moeda – Angola;
- Mercado Lideta – Etiópia;
- DYEJI – Angola;
A arquitetura africana é mesmo incrível. Mas tão importante quanto fazer um trabalho incrível é saber como divulgá-lo.
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