O arquiteto Márcio Kogan declarou certa vez que sua formação dentro da arquitetura era totalmente cinematográfica:
No sentido de ser uma forma de contar uma história […] de poder, através da arquitetura, mandar uma mensagem, que no meu caso sempre foi feita com humor, crítica social, urbanística, arquitetônica e que tem, enfim, um pouco da dinâmica de se contar uma história
A verdade é que Márcio Kogan, gravou 13 curta-metragens e um longa em parceria com Isay Weinfield – além de realizar algumas exposições – em paralelo com a atividade de arquiteto, antes de optar definitivamente por essa carreira.
Nesta postagem, você conhecer um pouco mais da vida e das obras de Márcio Kogan. Declaradamente um admirador da arquitetura moderna brasileira e, sem dúvida, um dos mais premiados de nossos arquitetos na atualidade.
Márcio Kogan: biografia
Ao final de seu longa-metragem, em 1988, depois de passar 6 meses longe de seu escritório, Márcio Kogan descobriu que não tinha mais clientes e que, financeiramente como empresa, ele não se sustentava mais.
Era hora de tomar uma decisão firme em sua carreira, e foi o que aconteceu: Márcio Kogan deixou o cinema de lado e passou a se dedicar exclusivamente a arquitetura. Mas sua jornada até esta decisão definitiva teve outros lances interessantes.
Filho de um engenheiro famoso, Aron Kogan (que participou do projeto do Mirante do Vale, maior arranha-céu de São Paulo), perdeu o pai aos 8 anos de idade. Este fato influenciou muito em sua decisão de estudar arquitetura, pois mesmo nessa época já acompanhava o pai para visitar suas obras.
Márcio Kogan formou-se em arquitetura na Universidade Presbiteriana Mackenzie em 1976, aos 24 anos de idade.
Sua passagem pela vida acadêmica foi polêmica, chegando a ter um projeto de reurbanização da rua Major Sertório, no centro velho de São Paulo, censurado pela escola, porque se inspirava no filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick.
Um ano depois de formado, já projetou o edifício de seu escritório, onde está até hoje. Márcio Kogan é também responsável por outras obras, como uma torre habitacional de 12 andares e a Casa Goldfarb, em 1989.
Agora seu foco na arquitetura começa a gerar os primeiros resultados. Ainda em parceria com Weinfeld, Márcio Kogan projeta o edifício residencial Metrópolis e o Hotel Fasano, ícone do luxo e da gastronomia em São Paulo, ao qual se dedicou de 1996 a 2003.
Além desses, Márcio Kogan assina sozinho projetos para as Lojas Larmod e Uma na Vila Madalena.
Conheça a vida e a obra de outro arquiteto, que também teve dúvidas sobre a qual arte se dedicar antes de decidir os rumos de sua carreira: Roberto Burle Marx.
2001: Guinada na carreira de Márcio Kogan
Talvez novamente inspirado em Kubrick, o ano de 2001 foi um marco na carreira de Márcio Kogan, que rebatizou seu escritório com o nome de Studio MK27.
Ele idealizou toda uma metodologia diferenciada de trabalho, dando muito mais liberdades aos arquitetos, que não tinham funções específicas e acompanhavam suas próprias obras do início ao fim.
Começando com o grande sucesso da Casa Gama Issa, em 2002, o Studio MK27 passou a emplacar uma série de grandes projetos de Márcio Kogan, como o Estúdio Coser, o Museu de Microbiologia do Instituto Butantã, a Casa Du Plessis e a Casa BR.
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Com esses projetos, Márcio Kogan consolida sua admiração pelo modernismo brasileiro, incorporando em muitos deles outros elementos tradicionais de nossa arquitetura, como as varandas, os pátios, os muxarabis (espécie de treliça de origem árabe) e o famoso bloco vazado cobogó.
Começam a aparecer prêmios e citações em revistas internacionais de arquitetura, com destaque para a Casa Paraty (2009) que foi laureada com nada menos que 10 prêmios.
A partir deste ponto, a carreira de Márcio Kogan já é reconhecida internacionalmente, com projetos no Uruguai, Chile, Indonésia e Portugal.
Nesse período, destacam-se obras como a Casa de Punta, a Casa da Bahia, a Loja Decameron, todas em 2011, ano em que também foi nomeado membro honorário do American Institute of Architects.
Na sequência, ainda projetou o Studio SC, a Casa M&M e a Casa Redux, entre 2012 e 2014.
Outras obras e atividades de Márcio Kogan
Márcio Kogan incorporou, mais recentemente, o design às atividades do Studio MK27, chegando a ganhar prêmios por algumas das criações, como o Haaz Cobogó e a Banheira DR.
Carlo Scarpa também era um arquiteto que se aventurava pelo design. Conheça mais sobre ele em nosso post.
Além disso, participou de diversas exposições, além daquelas do início da carreira com Isay Weinfeld, como, por exemplo, a Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2012.
Da extensa lista de projetos de Márcio Kogan, vale destacar mais alguns, que não citamos nesse artigo, a maioria delas em parceria com componentes do Studio MK27:
Casa das Mirindibas, Berçário Primetime, Micasa VolB, Casa Osler, Casa 6, Livraria Cultura Iguatemi, Casa Cubo, Casa Rocas, Bar Riviera, Casa Txai, Casa B+B e Casa Mororó.
Um de seus projetos mais recentes é um hotel em Maldivas.
Na obra de Márcio Kogan, a simplicidade das formas, o conforto e a integração entre interior e exterior são marcantes. E isso se faz notar em uma frase bastante crítica do arquiteto:
Esses projetos ditos orgânicos são formas caras de construir, são absolutamente irracionais. […]. Se trata de uma revisão constante da arquitetura do espetáculo, em que a arquitetura deixa de ser uma ciência que satisfaz as necessidades do homem para se transformar em puro produto de marketing. Os espaços resultantes dessa arquitetura torturada têm uma péssima qualidade funcional e seu processo de construção é irracional e muito caro
Para o arquiteto Márcio Kogan a arquitetura é outra coisa:
A arquitetura é um trabalho coletivo
Um verdadeiro retrato do Studio MK27.
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