Muito mais do que idealizador de grandes obras arquitetônicas, João Artacho Jurado foi um notável empresário paulista.
Filho de pai anarquista, Artacho Jurado foi obrigado a largar os estudos ainda no primário, onde, por regra, deveria jurar à bandeira.
Ele foi proprietário da Imobiliária Monções S.A. e responsável pela construção de diversos prédios residenciais na cidade de São Paulo nos anos 30, 40 e 50, época do “boom imobiliário”.
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João Artacho Jurado e a arquitetura paulista
O fato de Artacho Jurado não possuir diploma de arquitetura ou engenharia deu o que falar naquela época.
Impossibilitado de assinar seus projetos, Jurado tinha colaboradores que o faziam. Dois desses nomes são Aurélio Marazi e Guido Petrella, engenheiros e muitas vezes também calculistas.
Esse fato vira e mexe gerava desconforto com o CREA, órgão que fiscalizava as placas de obra. E o motivo é simples: por mais que houvesse o consentimento de outros profissionais, o nome de maior destaque sempre era o de João Artacho Jurado.
Além disso, seus concorrentes contestavam a sua atuação.
O arquiteto Eduardo Corona, por exemplo, fez diversas denúncias. A mais famosa delas foi a publicação “Que Audácia!”, na revista Acrópole, em 1958, época de lançamento do Edifício Bretagne.
No artigo, as obras de Artacho foram chamadas de aberrações com uma ligeira “falta de brasilidade”.
Mas como é sabido, as obras de Artacho não foram só acusações. Muitos a chamaram de “tudo o que se podia sonhar”.
E o aval era dado, inclusive, pelo ex-prefeito de São Paulo.
Christiano Stockler das Neves, também arquiteto, fez uma crítica totalmente favorável ao estilo arquitetônico de Jurado. Em entrevista ao Diário da Noite, em 1958, afirmou:
Monções está pois de parabéns. Fez um edifício para o corpo e também para o espírito, e não apenas uma máquina de morar, que o materialismo inventou, que o mimetismo adotou, que o esnobismo fomentou
– Christiano Stockler das Neves
Artacho Jurado: características
O estilo de Artacho Jurado era uma perfeita mistura do moderno, o nouveau, o clássico e o déco. A arquitetura “artachiana” é o reflexo dos sonhos hollywoodianos.
Para se ter uma ideia, o filme “Domésticas”, de Fernando Meirelles, gravado em 2001, foi rodado no edifício Cinderela.
Varandas, balaustradas com desenho rebuscado e sancas ganham espaço em seus projetos, assim como formas eruditas da arquitetura clássica, que tiveram uma releitura moderna.
Nas obras de Artacho Jurado, os arcos e ogivas também ganham expressão e são assimilados a elementos utilizados por Oscar Niemeyer.
Aqui, pilotis em “V”, abóbadas e marquises sinuosas ganham um tom vibrante, onde predominam o rosa, o azul e o amarelo.
Sempre pensados para as classes média-alta e alta, seus edifícios iam além do morar. Eles trazem consigo uma coleção de serviços e opções de lazer.
Piscina, terraços e bar na cobertura são algumas de suas marcas registradas.
Artacho Jurado: projetos
Se você já passeou pela orla da cidade de Santos, com certeza vai lembrar que Artacho Jurado também esteve por ali. E os motivos são dois: o Edifício Verde Mar e o Enseada, duas obras-primas da arquitetura dos anos 50 que refletem o seu estilo.
Edifício Verde Mar
Inaugurado em 1957, o edifício Verde Mar fica no meio da orla, possui 168 apartamentos e privilegia os espaços de convivência.
A obra conta com um terraço panorâmico, jardim de inverno, salão de festas, bar, sala de esportes, uma sala para crianças com playground, além do belo jardim de entrada, que era um luxo para a época.
Edifício Enseada
Já o Edifício Enseada fica na ponta da praia e foi um verdadeiro marco para a época.
Com 228 apartamentos divididos em 15 andares, ele possui 11 elevadores e foi idealizado para a interação dos moradores.
São sofás e poltronas de rico acabamento, jardins de entrada e um jardim de inverno com fonte ao fundo, que pode ser visto de todos os apartamentos.
Ele é, até hoje, o condomínio de maior área comum em Santos.
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Artacho Jurado: Higienópolis e outros bairros
Edifício Piauí (1947)
O edifício Piauí foi a primeira obra de Artacho fora do eixo central paulistano. Ele foi o primeiro prédio inteiramente projetado por Artacho, que logo se mudou para o oitavo andar.
Localizado no bairro de Higienópolis, ele é um dos primeiros sem comércio no piso térreo, se tornando um grande diferencial para a época.
No lugar de uma venda ou restaurante, o majestoso hall de entrada. Artacho sabia que a única maneira de compensar essa “perda” seria com uma dose extra de glamour. E ressaltou em entrevista:
Você pode ter um terno de segunda, mas se estiver com um bom sapato e uma boa gravata, estará bem vestido. Se você estiver com um terno de primeira e um sapato vagabundo, você nunca estará bem vestido. Um prédio também é assim, o térreo tem que ser diferenciado
– João Artacho Jurado
Como cereja do bolo, o condomínio ainda conta com salão de festas, bar e jardim de inverno na cobertura.
Edifício Bretagne (1958)
Também no tradicional bairro de Higienópolis, em São Paulo, o Edifício Bretagne é um marco arquitetônico na cidade de São Paulo.
E o motivo principal é que foi nesta época que as famílias estavam deixando os casarões para viver em condomínios.
Jurado, então, fez o inovador: projetou o prédio em “L”, que mistura diversas formas e cores, cercado por áreas comuns, como piscina, playground, salão de festas, restaurante e até piano-bar.
O jardim no terraço veio para completar com toda a bossa.
Além disso, também fez questão de um estacionamento com 150 vagas-extra, para que os moradores pudessem alugar e custear gastos do condomínio.
Não é à toa que a revista inglesa Wallpaper considerou o Bretagne como um dos melhores edifícios para viver no mundo!
Edifício Viadutos (1951-1958)
Localizado na Bela Vista, bairro central de São Paulo, o edifício Viadutos foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (CONPRESP), em 2002.
Ele possui 368 apartamentos divididos em 27 andares. A cobertura oferece uma visão 360 graus da cidade.
Além disso, o Edifício Viadutos foi um dos primeiros na cidade a possuir painel luminoso em sua cobertura, a fim de aplacar os custos do condomínio. Porém ao ser tombado, o Patrimônio exigiu a sua retirada.
Edifício Parque das Acácias
Considerado um “mini Bretagne”, o Edifício Parque das Acácias é famoso por seu pátio de colunas próximo ao jardim, com um teto bem particular: totalmente pastilhado, ele possui formas similares a de “amebas” coloridas.
Se você se interessou pela obra de Artacho jurado, saiba que existe um livro “Artacho Jurado- Arquitetura Proibida”. É um ótimo item para a mesa de centro, ou até mesmo um bom presente para arquitetos.
A obra deu origem ao documentário de mesmo nome, que está disponível no Youtube.
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*Texto por Maria Luisa Issa Koester
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