Joaquim Pinto de Oliveira (1721 – 1811), conhecido como Tebas, foi um arquiteto negro e escravizado que influenciou o desenvolvimento da arquitetura paulistana no século XVIII.
A origem de seu apelido vem da língua quimbumbo e significa “alguém de grande habilidade”. Seu talento na arte da cantaria, uma técnica que consiste em talhar pedras em formas geométricas, ajudou a criar as fachadas das Igrejas mais importantes do centro de São Paulo naquela época.
Apesar disso, a contribuição de Tebas para a arquitetura da cidade foi questionada durante muitos anos. Chegaram até mesmo a duvidar da sua existência. Mas em 2018, o Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo (SASP) reconheceu Tebas oficialmente como arquiteto e urbanista.
Ficou curioso(a) para conhecer as obras do escravo que modernizou a arquitetura da maior cidade do Brasil? No post de hoje, vamos contar a história e mostrar as obras mais famosas de Tebas, acompanhe!
Tebas: Biografia
Joaquim Pinto de Oliveira nasceu em Santos no ano de 1721. Não se sabe ao certo quando Tebas chegou ao centro de São Paulo levado por seu senhor, o português Bento de Oliveira Lima.
Ele era um mestre de obras em busca de oportunidades na construção civil na cidade. Vale destacar que, naquela época, a região passava por um forte período de ascensão.
Já na capital paulista, Tebas começou a mostrar sua habilidade na transformação de pedras brutas em blocos de construção, o que era justamente parte do movimento de modernização da cidade.
Naquela época, os prédios de São Paulo ainda era construídos com a técnica de taipa que, embora fosse eficiente, trazia muitas limitações arquitetônicas.
O talento de Tebas para talhar as pedras logo chamou a atenção das ordens religiosas da cidades (beneditinos, franciscanos, carmelitas e católicos). Foi assim que ele realizou obras e reformas que ficaram marcadas na história da cidade.
Uma das curiosidades sobre a trajetória do arquiteto é que, devido ao seu grande talento, “Tebas” passou a ser uma expressão popular usada para representar pessoas habilidosas. Diziam, por exemplo, “fulano é um Tebas”.
Ele conseguiu sua carta de alforria aos 58 anos. A versão oficial diz que Tebas conseguiu comprá-la com os pagamentos recebidos pelo trabalho como arquiteto, mas outra explicação aponta que ele ganhou um processo contra a esposa de Bento de Oliveira, que tinha falecido.
Tebas continuou ativo no trabalho com alvenaria estrutural até os 90 anos, quando uma gangrena na perna o levou à morte.
Ele foi sepultado na Igreja de São Gonçalo, localizada na Praça João Mendes, centro de São Paulo.
Agora que você conhece a biografia de Tebas, vamos conferir a beleza de suas obras!
Veja também: Patrimônio Histórico – O Que É +14 Construções Históricas que Ficam no Brasil
Tebas: Obras e Curiosidades
As contribuições de Tebas para a arquitetura paulistana estão principalmente nas igrejas. Assim como sempre aconteceu na maior parte da história, eram as ordens religiosas que tinham mais recursos para investir no desenvolvimento da arquitetura.
Entre as obras mais famosas de Tebas estão a construção da torre da antiga Igreja Matriz da Sé e os projetos das fachadas do Mosteiro de São Bento e da Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco.
Entre as obras de Tebas, também destaca-se o Chafariz da Misericórdia, que ficou conhecido como “Chafariz do Tebas”.
Localizado onde hoje é a rua Direita, ele foi o primeiro chafariz público de São Paulo. Tebas desenvolveu um sistema que canalizava as águas do ribeirão Anhangabaú e, por isso, ele também é considerado engenheiro hidráulico.
O local serviu como ponto de encontro de escravizados para buscar água, de namoros e conversas políticas. Em 1866, o chafariz de Tebas foi demolido, já que a capital passou a ter água encanada no centro.
Tebas: Reconhecimento e Homenagens
Nos últimos anos, um grupo de pesquisadores se dedicou para que o trabalho de Tebas fosse reconhecido como essencial na arquitetura paulistana.
Esse reconhecimento começou a tomar força em 2018, quando o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado de São Paulo (SASP) reconheceu Tebas como arquiteto e urbanista e o colocou no quadro associativo permanente da entidade.
Em 2019, foi lançado o livro “Tebas – Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata” (Abordagens), organizado pelo escritor e jornalista Abílio Ferreira. A obra reúne artigos de 5 especialistas com detalhes sobre a história que, durante muito tempo, ficou esquecida. Se você quiser baixar o livro, é só clicar aqui.
Já em 2020, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, inaugurou um monumento em homenagem a Tebas. Ela foi instalada na Praça Clóvis Bevilácqua, no centro da cidade.
Entregue no Dia da Consciência Negra (20 de novembro), a obra em homenagem a Tebas foi criada pelo artista plástico LumumbaAfroindígena em parceria com a arquiteta Francine Moura.
A obra suspensa no ar dá uma ideia de ascensão, como se ela emergisse para fora, do período da escravidão, desse universo perverso, ao mesmo tempo em que se tem a presença do high tech, que faz um contraponto ao componente perecível, da corrente de ferro comum, que ficará na base da estrutura ao inox que é um material mais contemporâneo
– LumumbaAfroindígena e Francine Moura
No dia 30/06/2020, o arquiteto Tebas também foi homenageado pelo Google com um Doodle.
Gostou de conhecer mais sobre a história de Tebas? Aproveite para descobrir a trajetória de outros arquitetos importantes da história:
- Lúcio Costa, o arquiteto com um propósito: ordenar o espaço
- A trajetória de sucesso de Zaha Hadid, a Rainha das Curvas da arquitetura
- Paulo Mendes da Rocha: o arquiteto “geográfico”